terça-feira, maio 17, 2005

Jardim de Corpos

Era um jardim de corpos
tão intenso que o guardei só para mim durante uma vida inteira.
À noite, todas as noites...
naquele instante exacto antes do sono vir,
a sua imagem invadia os meus sentidos
sem nunca me deixar dormir.
Explodia-me os sentimentos,
os momentos estáticos de um respirar antigo,
mas acima de tudo criava em mim
uma revolta tão intensa
por não passar da imagem de um simples jardim.
Nele, sobre um chão vermelho de fogo pairavam,
numa igualdade de diferenças,
corpos deitados num caos de perfeiçao.
De olhos fechados e respiraçao suspensa
por um fio de seda, tão fino e tao fragil como uma cançao.
Ficavam ali, almas imperturbaveis,
criando um quadro onde o real e o imaginário
se fundiam em toques, em magia e harmonias inimagináveis.
No meio do jardim batia um coraçao composto por metades.
Duas unicas partes criavam o todo.
Dormiam envolvidos um num outro,
embalados por um silêncio e por uma paz,
que batia badaladas de sedução pura
sem nunca, mas nunca, deixar para tras
a verdade que aos meus olhos aparecia agora,
finalmente nua e crua.

Amélia