quarta-feira, maio 11, 2005

Carta ao Vergílio

Querido Vergílio:

Nem sempre sabemos o que dizer. Alias, nem sempre temos que dizer qualquer coisa. Mas neste caso, neste instante, apetece-me conversar infinitamente contigo. Apetece-me contar-te segredos. Apetece-me mostrar-te que afinal somos bem mais parecidos do que julgamos ser.
Tudo nunca passa de uma descoberta. Viver é descobrir, é cometer erros e querer dia após dia cometer ainda mais. Eu tenho sede de vida. Hoje seria capaz de gritar tão alto a minha felicidade inocente, que até tu, que moras longe, a poderias cheirar. Vou vivendo um dia de cada vez, mas não como se fosse o ultimo dos dias. Porque esse é para as despedidas e eu não me quero despedir. Um passo de cada vez. Não corro porque o caminho é grande e não me posso dar ao luxo de ficar cansada a meio. Vou, por isso, andando devagar. Vamos, por isso, vendo a paisagem os dois. Vamos pensando nas casas que queremos comprar e em todas aquelas que nunca comprariamos, não é? Vamos sonhando aos poucos. Vamos chorando aos poucos, rindo aos poucos, amando aos poucos, lembrando aos poucos. Vamos passando a mensgem por quem se cruza conosco. Amuamos, discutimos, mas vamos, sempre aos poucos, vivendo um dia de cada vez.

Amélia

1 Comments:

At 4:33 da manhã, Anonymous Anónimo said...

A Amélia é uma menina, rapariga, senhora que está completamente presa a algo que foi e não é, que é e devia ser mas talvez nunca seja, que pode vir a ser mas pelo que foi, não é mais do que é.

A Amélia agarra-se a momentos, alimenta-se de recordações e vive de sonhos. Gosto muito de ler a Amélia. Gostava muito mais de ler a Joana.

A Joana não sonha, vive. A Joana não divaga, é pragmática. A Joana tem tanto interesse duma forma seca, como a Amélia tem duma forma disforme.

A Joana vive com desespero e a Amélia com desespero vive.

A Amélia suga a Joana para um Mundo de recordações, e a Joana suga-se da Amélia sempre que quer recordar algo.

A Joana não tem coragem suficiente para recordar as suas histórias sozinha. A Amélia não teve coragem suficiente para existir.

A Joana um dia será... quanto à Amélia, basta um dia para não ser.

Gosto de ler a Amélia. Mas gostava mesmo muito mais de ler a Joana.


Não é por batermos sempre na mesma tecla que a corda se vai partir... mas dessa forma nunca faremos música.

 

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