sexta-feira, abril 22, 2005

Infância

Nasci numa tarde de Primavera. Tive uma infancia feliz. Repleta de momentos de solidão, mas feliz. Habituei-me desde sempre a brincar sozinha, a imaginar sozinha , a ser fechada para o Mundo e a criar um Mundo só meu. Quando era pequena gostava de desenhar cidades em folhas A3, aquelas de papel cavalinho. Eram tão giras, tão completas. Casas, pessoas, caminhos, carros, lojas, nuvens, florestas...nunca me esquecia de nada. Houve um dia em que fiz um desenho desses mas em pequeno. A minha mãe guardou-o. Ainda hoje, quando quero recordar, basta ir ao quarto dela e ele está lá. Um pedaço de mim.
Fui crescendo. Continuava no meu Mundo. Construi primeiro paredes, depois muralhas à minha volta. Gostava das tardes quentes. Gostava de livros sobre História. Gostava de imaginar como era o antigamente. Sonhava muito. Ainda sonho, mas de outra forma. Lembro-me da hora de dormir. Dormia sempre com um boneco a meu lado para nao me sentir sozinha. Mas nunca era o mesmo boneco todas as noites, porque para mim, eles tinham vida, eram como eu, e escolher só um para ser o meu companheiro de sonhos não era justo. Assim, ia variando para que nenhum ficasse chateado comigo. Chegou mesmo ao ponto de, em alturas especiais como o Natal, dormir com todos eles. Gostava tanto desses momentos.
Lembro-me, como se fosse hoje do meu primeiro dia de escola. Levava um vestido amarelo, escolhido pela minha mãe. O meu primeiro dia, ao contrário do que é costume, foi cheio de euforia e brincadeira. Não chorei quando me deixaram sozinha na nova escola, pelo contrário, estava tão feliz por estar rodeada de meninos e meninas como eu, que , de forma fluida e sem dar por isso, começei imediatamente a fazer amizades, algumas das quais duram até hoje.
Durante a Primária fui sempre constante. Com isto quero dizer que nada de especial aconteceu. Era bem comportada, no recreio brincava até nao poder mais. Tinha amigos, fazia birras, gostava de doces principalmente rebuçados. Gostava das musicas daqueles grupos juvenis que surgiram na altura. Cantava muito, brincava ainda mais. O tempo foi passando. Mas desses anos há um momento de rebeldia que gosto sempre de recorda. Na sala de aulas estavamos sentados. Eu estava sempre ao lado de um amigo meu (amigo até hoje). Um dia, já não me lembro a que proposito, chateamo-nos durante uma aula de expressao plastica. Essa era uma daquelas aulas em que faziamos colagens e picotados e pintavamos desenhos na esperança que não ficassem esborratados devido a um descuido qualquer. Como eu ia a dizer, lá estava eu e ele a meu lado, os dois a discutir. Ele levantantou-se para fazer queixinha à professora (nunca entendi bem o significado de "fazer queixinha"...até que ponto o relato de um acontecimento é queixinha ou não?) Enfim...eu chateei-me tanto que, com raiva infantil, peguei num tubo de cola e espremi-o, com toda a força que tinha, para a cadeira dele. Depois? Calei-me, virei-me para o meu lugar e esperei que ele chegasse. O que acontecu depois é previsivel. Ele voltou para o seu lugar, sentou-se em cima da cola e finalmente, ao fim de muita confusão eu fiquei de castigo. Apesar de todos estes momentos, continuei a criar o meu Mundo, umas vezes mais vivo outras mais apagado, mas sempre lá. Há tantas outras coisas que poderia contar. Mas de todos esses episódios, pensamentos e sentimentos, uns quero guardar só para mim e outros quero partilhar-los quando achar que o devo fazer. Até lá, fica aqui a minha Infância.

p.s- Há tanta coisa que te quero dizer, que as vezes penso que vou explodir. Só quero que saibas que cada vez tenho mais a certeza de que é sintonia.

Obrigado.

Amélia